terça-feira, maio 23, 2006

Liga Espanhola, Castejón de Sos, Mai 11-14

por Nuno Gomes

Como é do conhecimento geral, realizou-se entre 11 e 14 de Maio, uma prova do Circuito Nacional de Parapente de Espanha, em Castejon se Sos. Inesperadamente, deslocaram-se a esta prova 8 pilotos Portugueses, onde participaram no total 78 pilotos. O balanço foi positivo, pois para além do divertimento e da possibilidade de evolução, a prova acabo
u bons resultados dos Portugueses, ficando um deles (Cláudio Virgílio) em terceiro lugar da geral. Podem ver as classificações em
http://www.aerofly.es.

Informação Geral


Castejon de Sos é um pequeno "Pueblo" espanhol no coração dos Pirinéus. Uma vila simpática, com um povo relativamente acolhedor, que vive do turismo de Aventura com destaque para o Parapente. Para além do parapente é ainda possível voar de avião, o
u ultraleve, a partir do aeródromo local, fazer BTT, percursos pedestres, assim como outras actividades similares. Muito perto, em Sort, estão ainda disponíveis actividades em águas bravas, como Rafting, HidroSpeed, Canyoning, etc (espectacular).
A oferta hoteleira não é de muita qualidade, mas os preços nesta altura são acessíveis. Os Portugas ficaram todos nuns bungalows existentes no Parque de Campismo, com capacidade para 6 pessoas e pelos quais se paga 50 "erois" por
dia (não são
muito bons, mas também não são maus). Em termos de comida é possível comer relativamente bem á volta de 12 euros.

Coisas Boas


Costuma-se dizer q
ue, dando para voar, um parapentista está sempre bem. Mas neste evento posso dizer que se esteve muito bem. Para além de se voar nos 4 dias, apesar da chuva na manha do terceiro dia, houve vários factores que realmente contribuíram para a boa disposição dos Portugas.

- O ambiente entre os Portugas foi muito bom. Voamos juntos, divertimo-nos juntos, etc, e tudo correu pelo melhor.

- O lugar, como sítio de voo
é fantástico. Verdadeira alta montanha, com térmica qb, alguma porradinha a fazer lembrar a "mama", brisas, vales profundos a acabar em rios, vales mais largos com grandes campos relvados e tudo a funcionar como diz nos livros.

- O acolhimento dos pilotos Espanhóis foi fantástico. Bastante curiosos com a nossa presença, a maioria dos pilotos esforçou-se para qu
e nos sentíssemos em casa. De realçar a humildade de alguns
pilotos mais conhecidos como o Xevi Bonet, o Ramo
n Murrillas, Larry Pino, Guillermo Armas, só para referenciar alguns. Não foram poucas
as vezes que nos tentaram transmitir informação acerca das condições do local, as térmicas de serviço, os trajectos mais comuns, etc, isto apesar do ambiente competitivo que vivíamos. De facto os nossos "hermanos" apesar
de intrigados com o que nós andamos a fazer comportara
m-se acima das expectativas. Cá os esperamos para retribuir...

- O nível da prova foi muito elevado, com a quase totalidade dos bons pilot
os espanhóis presentes. Do ponto de vista formativo foi excelente com mangas rápidas, e muito técnicas. Qualquer decisão errada poderia por um piloto no chão.

Coisas Menos Boas

Como sempre, nem tudo foram rosas. Algumas coisas, essencialmente a nível organizativo não estiveram bem.


- Os horários raramente eram compridos.

- Os briefings eram só na descolagem, e sem aviso prévio. Aconteceu estarmos todos na conversa e de repente sermos os únicos na descolagem porque o briefieng tinha começado sem aviso notório. Depois, chegados ao briefing, descobrirmos que a janela de descolagem abria pas
sados 5 minutos e o Start passados 10 minutos (Estão a ver o stress...). Aliás, isto do stress esteve presente em todas as mangas, porque entre o briefing e abertura da janela não passavam mais do que 10 a 15 minutos. Resta a desculpa que houve sempre alguma pressão devido ás condições meteorológicas, nomeadamente pela possibilidade de ocorrência de desenvolvimentos.

- As recolhas funcionaram um pouco mal. Na última manga por exemplo, estivemos 2h30 á espera de ser recolhidos. Isto até que poderia ser desculpado, se não estivéssemos no golo.


- Para além das falhas nas recolhas, não houve tshirt, nem lanches, nem água e o jantar foi substituído por um beberete. Para quem n
ão sabe a inscrição nos 4 dias foi de 100 euros.

- Menos importante, e mais a ver com questões pessoais, também dispensava os "Ground Start" e as "pernas" contra o vento.

Relativamente á prova


Como podem verificar pelas classificações, realizaram-se 3 mangas (38, 50 e 62 km). Todas as mangas valeram mais de 900 pontos, o que demonstra a competitividade da prova. As mangas foram extremamente interessantes, com passagens fantásticas ao lado de paredes verticais com 600m e a 2600 m de altitude, ou sobre rios em vales 1000 m abaixo. Também foi possível voar com abutres e outros pássaros de grande porte e sempre acompanhado por muitos ouros pilotos.


1ª Manga -
Realizou-se na quinta-feira, após uma viagem de 12 horas e 3 ou 4 horas de sono. Para que nos mantivéssemos acordados, foi de longeo dia mais potente, com nuvens qb, e algumas a ameaçar transformarem-se
em
congestus. No fim do dia houve mesmo trovoada. O meu vário passou +8 maisdo que uma vez. Houve relatos de térmicas para além dos +10. Térmicas destas associadas a algum vento em altura, podem ser engraçadas. Foi defacto um bom teste á minha Tycoon (ticón para os espanhóis), que por vezesparecia mais um touro enraivecido. Foi necessário domar o bicho e manter o sangue frio. Esquecendo a parte menos boa, a manga
foi muito bonita. Tudo se decidiu antes do km 20 com a passagem do Torbon, um monte com mais de 2700m (é provável que o nome não esteja escrito correctamente). De facto a passagem foi feita por um planalto entre o Torbon e outro monte. Dada a potência do vale que se seguia, o ven
to ficava forte de frente. Era necessário passar muito alto junto á nuvem.
O Cláudio, o Cristiano, o David e eu, optámos juntamente com mais alguns espanhóis por passar junto ao monte Torbon. Essa veio a revelar-se uma boa opção. Os restantes Portugas e a maioria dos Espanhóis não conseguiram passar. Após a passagem do Torbon a coisa foi mais fácil, apenas com uma passagem bastante difícil, em que o pessoal após passar um grande vale, ficou baixo e teve de subir numa térmica muito forte e turbulenta agarrada a uma parede um pouco assustadora. A parte final foi muito rápida, a ser necessário carregar no pedal a sério p
ara não perder o grupo. O Cláudio carregou tanto que falhou o golo por centenas de metros. Eu e o Cris chegamos sãos e salvos.


2ª Manga -
Devido ao vento e probabilidade de trovoada foi marcada uma manga curta dentro do vale de Castejon. Após um Ground Start os Portugas conseguiram arrancar muito bem colocados. Infelizmente, após a primeira baliza, que ficava no vale, o vento ficava de frente eforte. As condições naquele momento também ficaram fracas e a grande maioria dos pilotos acabou por ficar por ali. O Cláudio, conseguiu chegar novamente á encosta, subir e iniciar a perseguição a um grupo que já setinha safado. Pelo que me foi dado a perceber a partir dai as condições melhoraram, e
apesar do vento, o pessoal conseguiu chegar ao golo. O David, que inicialmente se conseguiu aguentar também chegou ao golo (Parabéns). De referir, que entretanto os marrequeiros se reuniram numa boa esplanada a beber umas "canhas" e puderam assistir a uma cena fantástica, em primeira linha. Vinha o Ramon Murillas a chegar ao golo,tão descontraído que até tirou o acelerador. Entretanto o Bitoque Cláudio, que vinha logo atrás de "pata" a fundo, passa alguns metros acima do Ramon a todo o gás. Quando se apercebeu do vulto, o Ramon ainda meteuacelerador, mas foi tarde de mais. Escusado será dizer que foi o delírio da pequenada e razão para beber mais umas quantas canhas.

3ª Manga -
O céu estava completamente coberto por nuvens altas, não augurando nada de especial. Também estava previsto algum vento. Todos estávamos convencidos que a haver manga, seria uma marreca. Afinal foi precisamente o contrário. Marcou-se uma manga de 50 km a favor do vento. Após alguma dificuldade na primeira térmica o dia foi uma surpresa, apesar de se manterem as nuvens. Como dizia um espanhol "...isto funciona sempre...", e funcionou. O tecto estava baixo, com a base das nuvens abaixo dos picos mais altos. Mas subia-se por todo o lado, e se nos distraís
semos entravamos pelas nuvens dentro. Algumas nuvens estavam ameaçadoras. Eu nunca tinha andado tanto tempo de orelhas, mas era a única maneira de meter acelerador sem grande stress, e ao mesmo tempo evitar ser "sugado". O voo foi incrível, com quase todos os pilotos a avançarem em fila, passando monte, depois vale, depois monte, e assim sucessivamente até ao golo. Resultado, quase 30 pilotos no golo, dos quais 5 Portugas. Um
voo de gás á Tábua, com 50 km em menos de 1h30, poucas enroladelas, muito acelerador, e os primeiros 20 no golo a chegarem em 10 minutos. No meio ainda houve algumas aventuras, mas fica para contar no café....

Nuno Gomes

23-05-06

quarta-feira, maio 17, 2006

Recorde de Mondim, 90 km

Recorde de Mondim
Sra. da Graça – Alfandega da Fé: 90km.
06.05.06, descolagem: 14h, aterragem: cerca 18h.

por Helder Andrade

Olá amigos,

Nunca tive muito jeito para a escrita mas como este voo só foi possível devido a vários factores como por exemplo relatos de voos de outros pilotos com os quais se aprende muito, então também eu devo partilhar o meu voo, e os fóruns são claro um bom local para partilhar experiências.

Então é assim, eu e o Daniel de Coimbra no dia anterior combinamos tentar sair em distancia pois o dia parecia ser interessante para tal, o Daniel chegou a descolagem ao meio dia e enquanto comia alguma coisa foi observando as condições atmosféricas, pelas 13:00 saio do trabalho e no restaurante enquanto como uma sopa, uma salada de fruta e três copos de sumo de uva, na brincadeira convenci um amigo que ali jantava a ir recolher-me a Torre de Moncorvo terra onde ele nasceu embora esteja agora a viver em Mondim, bom Moncorvo porquê?, já algum tempo que estava na minha cabeça que com vento noroeste ia tentar Moncorvo com vento de oeste tentava Mirandela ou Bornes e Sul Chaves ou Montalegre.
Chego a descolagem e claro o Daniel já tinha uma boa ideia do que se estava a passar no local, bons ciclos térmicos alguns cúmulos mas só em cima da descolagem, para trás céu azul a indicar ainda fraca actividade térmica, mas com o vento a aumentar decidimos descolar e aguentar ali por cima, em poucos minutos estávamos no teto+ -1700m, o Daniel depois de ter entrado na nuvem saio com o noroeste e logo depois deixei de o ver, eu como a experiência é pouca tinha decidido que quando volta se a sair em distancia iria tentar explorar cada térmica ao máximo andar o mais colado possível as nuvens para poder realizar as transições com mais certeza (aprendi esta parte nos vídeos VENTUS parapente Team)e assim fiz até à parede de Macieira 10km, só que dali para a frente nada de cúmulos e estando eu na entrada do planalto apenas com cerca de 300m a cima deste e sabendo que tinha mais ou menos 12km até a próxima parede que até parecia-me montada uma estrada de nuvens dai para a frente penso para mim, não tenho sorte nenhuma e não tenho nenhuma hipótese de lá chegar mas para o chão não vou e andei ali a engatinhar durante 15minutos sempre debaixo da nuvem, entretanto começo a observar pequenas sombras pelo planalto adiante, claro eram cúmulos em formação, ora embora agora estando com cerca de 400m em cima do planalto com + -8km de comprimento, pensei é esta a oportunidade de tentar passar o planalto e chegar a próxima parede e assim fiz, com muita paciência e muito devagar lá fui atravessando embora consciente que qualquer térmica mal aproveitada e dado a altura que estava do solo , iria para o chão o que não era nada agradável pois tinha uma ou duas horas de mochila as costas até a próxima povoação, depois de passar o planalto com pouca altura foi como um prego, pensei novamente tanto esforço para nada mas lembrei me já vi "malta" que enquanto não tem os pé no chão não desiste, vou tentar fazer o mesmo, já com cerca de 100m do solo no meio do vale(Vila Real - V.Pouca) decidi apontar a um sitio que me pareceu poder ter térmica e bingo lá estava ela até andei ao para trás, enrolei e pouco depois estava encima da serra da Falperra, aguentei ali em termodinâmico por vezes quase parado até parecia uma águia a observar a presa, a térmica lá acabou por se soltar e a partir dali sempre a aproveitar a térmica ao máximo e seguir os cúmulos que iam rebentando a minha frente, que por vezes demoravam a aparecer e como não queria arriscar nenhuma transição pois até perto de Vila Flor o teto andava pelos2000m de altitude tive que permanecer por varias vezes no mesmo sitio e por vezes recuar mas tentando estar sempre o mais perto da base da nuvem para manter sempre uma boa altitude, entretanto chego a Vila Flor onde avistei vários pilotos a voar perto da Serra de Bornes, e pela minha frente tinha agora duas estradas de nuvens, uma em direcção aos pilotos que avistava e outra parecia-me em direcção a Moncorvo mais propriamente Carvissais, bem decidi me continuar em direcção ao objectivo que embora um pouco na brincadeira me tinha proposto, que era a terra do meu amigo Tomé(Torre de Moncorvo),mas quando comesse a atravessar o Vale da Vilarissa começo a notar o vento mais forte e observo uma estrada de nuvens com direcção Moncorvo Freixo, e estas com algum desenvolvimento e a indicar vento com alguma intensidade, bom vou deixar Moncorvo para outra oportunidade, e comecei a rumar novamente na direcção que trazia antes, passo ao lado esquerdo de Alfândega da Fé e vou até cima do rio sabor mas com o vento a aumentar e a começar a estragar tudo pensei, para mim são mais alguns km mas para a recolha podem ser mais uns 30 ou 40, optei então por ficar do lado de cá do rio onde acabei por aterrar na aldeia de Vilar Chão.

Já me disseram " agora ficaste com estatuto...agora só vais voar quando der distancia ", claro que é a brincar mas vou dizer aqui o mesmo que respondi a essas pessoas minhas amigas, em primeiro não é nada que qualquer piloto com alguma experiência, se tentar não possa conseguir (o Paulo Belo de Vila Pouca já o fez por varias vezes e distancias maiores),e se pensarmos nos 380 do Diogo!!, segundo, hoje fiz 90km amanhã posso nem conseguir fazer 9km, terceiro, marrecas ? Isso já não é para mim!, quem pensar assim não vai longe porque em minha opinião para se voar melhor e realizar bons voos é preciso treinar muito, fazer muitas marrecas falhar muitas térmicas etc. etc.

Aqui fica o meu voo, para mim muito lindo claro, que embora a fazer distancia g
ozei muito a paisagem e o passeio.

Bons voos,
Hélder Andrade