domingo, maio 30, 2004

Efeitos da Altitude

A altitude de 3660m é negligível. Vive-se na quase normalidade, se não se fizer demasiado esforço físico. Quando sobes de teleférico à Aiguille du Midi, 3842m, sentes-te ofegante quando sobes as escadas e pouco mais. Sentires-te ofegante significa que tens de abrandar o passo, mais nada.
Já estive nas seguintes cidades onde existem aeroportos onde aterram aviões a jacto: Cusco, Peru, 3360m, Lhasa, Tibet, 3650m, Leh, India, 3505m, e na época alta os viajantes chegam diariamente em aviões cheios. O que têm de fazer é hidratar-se mais que o normal, tomar aspirina e fazer esforços moderados.
Quanto aos 4570m também nada têm de fatal. Não é recomendável subir a esta altitude em pouco tempo, mas se o fizermos devemos restringir o esforço ao mínimo. É imprescindível estarmos bem agasalhados e bem hidratados.
Face ao deficit de oxigénio o organismo começa a reagir drasticamente e a produzir glóbulos vermelhos. Quanto menor for esse deficit menos o risco de contraírmos edemas (cerebrais ou pulmonares).
Como se limita o deficit de oxigénio? Reduzindo o esforço físico ao mínimo e estando muito bem agasalhado para conservarmos energia o mais possível. A protecção do frio implica maiores necessidades de energia num momento em que o organismo precisa dela para outras funções.
Não esquecer que a maior superfície de pele mais exposta que temos é a cabeça! Sempre coberta, sempre bem isolada.
Os edemas acontecem nos pulmões ou no cérebro e, por este motivo, não podemos deixar que o cérebro se torne no ponto fraco do processo.
Acrescentando outra ideia à da energia corporal, a razão por que as extremidades congelam é por que o organismo tem de gerir uma energia escassa e decide sacrificar braços e pernas para manter e conservar energia nos órgãos vitais que se encontram no tronco e na cabeça.
Outra razão por que os alpinistas em altitude gelam com maior facilidade é por que o sangue, carregado de glóbulos vermelhos, é muito mais espesso e tem muita dificuldade em circular nos minúsculos vasos das extremidades.
Mais, os efeitos de qualquer medicamento são ampliados com a altitude! Já vi ficarem em coma a 3600m por tomarem medicamentos para dormir (não sei que dose)!
Ainda quanto aos 4570m, já subi com mais 7 ocidentais, todos alpinistas com experiência nos Himalaias, e alguns sherpas, de helicóptero de uma altitude de 1000 e poucos para 4800m (Kangchenjunga, Nepal, 2001). Todos reagimos bem e esse dia passámo-lo em descanso a beber chá e à conversa. No dia seguinte fizemos uma caminhada moderada à roda e acima do acampamento. Ao 3º dia começámos a actividade normalmente subindo o glaciar.
No 2º dia, o Brian que é suiço instrutor de parapente, fez um voo de parapente descolando de um monte perto. Foi aí que me lembrei que o parapente existia e que queria experimentar...
Não me parece que o pessoal tenha de preocupar-se com a altitude por que a duração dessa exposição é demasiado curta.

Efeitos da altitude -

a) Hipoxia: dor de cabeça, vómitos, perda de equilíbrio, edema, perda de consciência;
b) Frio (com exposição ao vento, wind-chill factor): congelação (1º 2º 3º graus), hipotermia;
c) Oftalmia - a atmosfera em altitude tem menos partículas em suspensão para filtrar os raios solares, daí que seja muito importante usarem-se óculos de sol com bom poder filtrante (protecção UV 100%, IV >90%, categoria 4).
d) Protecção da pele com protectores solares pois a radiação em altitude é muito mais intensa que à superfície.

Única solução em voo para inverter estes efeitos: perder altitude.

Gonçalo Velez

(cópia de uma mensagem no forum parapenteportugal)

PS: Ler mais em http://www.high-altitude-medicine.com
PS2: O que digo aqui não significa que é inócuo subir a estas altitudes sem
precauções e que o risco é nulo.

30.05.04