quarta-feira, setembro 30, 2009

Análise do Acidente por Cláudio Virgílio

Vou partilhar contigo o que me pareceu que se passou (pelos vídeos). Espero que te possa ajudar em voos futuros e que possamos tirar alguma lição do que aconteceu.
No filme do Paulo Nunes vens já em perda quando o filme começa. Embora ligeiramente desequilibrado, a asa sai a voar (2’’) assimetricamente. Este momento seria o ideal para tomares conta da situação mas o facto de teres as pernas ainda esticadas causou-te um momento de rotação difícil de evitar e parar.
Recuperei uma vez a minha Magus 4 numa situação muito parecida e lembro-me que foi bastante violento e extremamente físico, pois tive de dobrar as pernas bem debaixo do arnês, e afastar os joelhos ao máximo com as pernas bem comprimidas contra as laterais para evitar o twist para a esquerda, enquanto ao mesmo tempo tinha a asa a mergulhar 90º para a minha direita.
Estive muito perto do twist (tal como tu), mas penso que foi o que me ajudou a não perder o controlo da situação – dobrar as pernas imediatamente e alargá-las bem no arnês.
O controlo da asa neste tipo de mergulhos é bastante complicado de explicar teoricamente, mas a ideia é travar a asa progressiva e proporcionalmente ao cabeceio quando ela já está à nossa frente, mas só o suficiente para não a deixar abater de mais e fechar em frontal.
Por vezes no pico máximo da abatida as mãos estão muito próximas do ponto de stall. Conseguindo agarrar o tchan à nossa frente, há que levantar as mãos e deixar a asa sair a voar.

Dá-me a ideia que no momento em que dizes que ela se volta a desmontar inexplicavelmente (3’’) a terás posto em perda de novo inadvertidamente e talvez numa tentativa de recuperares o equilíbrio no arnês(?) (será este o “outro momento em que metade da asa quer voar mas nesse momento estou todo retorcido e com um braço para baixo, travando-a”?).
No entanto entras directo numa perda bem puxada (tão puxada que as pontas da asa batem palmas) e razoavelmente estável (3’’-5’’). O que não é mau de todo se conseguirmos sair bem dela (ou tivermos suficiente altitude para corrigir possíveis erros). Parece-me que começaste a largar manobrador no momento em que ela inicia o primeiro mergulho à frente (o mais violento, e o absolutamente proibido de largar para sair).
O que largaste foi suficiente para permitir a asa sair a voar com tal energia que entras em tumbling e acabas com uma parte da asa agarrada a ti.

Quanto à análise do equipamento, foi realmente um grande erro nosso ter encurtado as 7 linhas quando na verdade precisávamos era de ter esticado as outras “57”. Eu não o sabia na altura e só mais tarde vim a saber que o lirus tem grande tendência a encurtar com a humidade e não a esticar com o tempo e o stress a que as linhas são sujeitas durante os voos. Ainda falei contigo sobre isso, mas acabámos por não fazer mais nada em relação ao assunto…

Quanto à próxima asa, deixo-te um conselho:
Há um proto da Ozone que parece estar a andar muito, tem partes em carbono e um planeio filha da …. Brincadeirinha :)
Agora a sério, quando dizes “Depois disso mantive-me atento, à espera de uma configuração que conhecesse e que me permitisse recuperá-la. Isso não aconteceu e fez-me perder altitude” levas-me a pensar na diferença das várias classes de asas. E como bem sabes, uma asa de competição precisa de ser pilotada activamente a todo o momento. Dar um passo atrás na escolha da asa por vezes é o mais acertado, e o que mais nos faz evoluir. Explorar uma asa ao máximo antes de passar ao próximo nível ajuda bastante. E quando falo em explorar ao máximo, significa explorar tudo, desde a asa abertinha a levar-nos pra lá dos 100km, como a asa feita num trapo, em condições turbulentas e a precisar de sair a voar. No teu caso e com pouca altitude, o esperar por uma configuração conhecida não ajudou. Penso que será bom fazermos um SIV, para explorarmos ao máximo as asas que voamos e assim sabermos sempre o que fazer em todas as situações.

Boa recuperação e até breve, na nuvem! ;)
Um Grande abraço,

-- Cláudio Virgílio

PS:
O ideal seria aprendermos só com os erros dos outros...neste caso é uma merda porque és tu a arcar com tudo e a servir de "exemplo" para aprendermos todos mais algumas coisas... Esqueci-me de acrescentar uma coisa no texto, que é simplesmente a manutenção feita por mão especializada no assunto. Principalmente ao nivel das linhas quando se faz mais do que uma época a voar uma asa com fios finos...

sábado, setembro 26, 2009

Horrível Parapente?

por Gonçalo Velez

Com o meu acidente tão dramático descrito abaixo, e para quem não conhece o parapente, gostaria de deixar a impressão de que é um desporto muito aliciante, maravilhoso e viciante para quem gosta de desafios na Natureza.

Deixo aqui um link para o filme Speed Bars
de Phillipe Broers captado no campeonato do Mundo no México em Fev 2009.
Reparem que quando as asas começam a girar em círculo é onde se situa uma corrente de ar ascendente, a térmica, e deve-se manter dentro dela para se subir.
Com tantos competidores nesta prova é incrível o espectáculo da constelação de asas girando ordenadamente, todas no mesmo sentido.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Atirei-me ao Chão, hein?!

por Gonçalo Velez

O Facto
Em Jul 10 descolei em Vale de Amoreira e após ter subido uns 150m tive um assimétrico (50%) e parece que tive a má reacção de travar o lado contrário.
A asa entrou em perda e sucederam-se uma série de configurações bizarras.
Perante tal, a minha atitude foi manter-me atento, à espera de uma oportunidade de controlar a asa.
Há opiniões divergentes sobre a sucessão de incidentes e as minhas reacções a cada.
Os dois filmes, da autoria do Paulo e Beta Nunes e do João Pinto estão aqui.
Há um momento em que ela parece recuperar no todo mas em que torna a desmanchar-se inexplicavelmente.
Parece haver outro momento em que metade da asa quer voar mas nesse momento estou todo retorcido e com um braço para baixo, travando-a.
O Saiote que se vê voar acima de mim num dos filmes, diz que a asa perto do chão parece tornar a recuperar, mas que se abate à minha frente e entro nela e que devo ter caído de um 4º ou 5º andares. O que me salvou foi ter caído muito perto, a norte, da descolagem onde prontamente tive o auxílio dos companheiros que lá estavam.

Agradecimentos
Tenho a agradecer profundamente a todos os que me acudiram e me salvaram da morte que esteve muito próxima!
A Be
ta e Paulo Nunes, o Miguel Almeida, o João Pinto, o Diego e o Fernando (ambos da Cantábria), o Saiote que me acompanhou do ar e que foi o único a assistir ao meu embate brutal. Lamento muito tê-los sujeito a momentos tão dramáticos e com um desfecho tão horrível.

Sequência
A minha sorte foi terem-me socorrido num espaço de tempo muito curto: o Miguel foi o primeiro a chegar e encontrou-me quase de pernas para o ar mas descansou ao ouvir-me gemer, os bombeiros de Manteigas que subiram de jipe à descolagem e me transportaram de maca para a descolagem, e daqui para Vale Amoreira onde um carro do Inem entretanto chegara e imediatamente se ocuparam de mim.
Os meus agradecimentos ao Sub-Comandante Francisco Tacanho e a Vitor Monteiro, bombeiros de Manteigas, que entenderam a urgência do incidente e actuaram prontamente. No carro do Inem vinha um anjo, a galega Dra Oliana, a quem devo devo estar vivo e a quem muito agradeço!

As Consequências
Fui transportado de imediato para o hospital da Guarda onde fui logo operado pela equipa do Dr Fernando Pessoa. O meu estado era de choque pois quase que perdera todo o sangue.
A minha bacia estava fracturada de forma raramente vista numa pessoa viva: o sacro tinha-se separado da bacia além de que fracturara os ilíacos! O sacro é onde acaba a coluna vertebral e daí partem grandes feixes de nervos.
Esmaguei o colo do úmero esquerdo, mas isso é o menos. A minha pele em todo o corpo estava intacta, não havia um corte ou esfoladela na pele. Devo ter embatido na posição de sentado, a pender para a esquerda (ainda bem a minha Impress ser a 2+!).
Devido às implicações neurológicas, todo o lado esquerdo do meu corpo está diminuído.
Depois de uns dias no hospital Francisco Xavier para estabilizar o meu estado e drenar os pulmões, estou há dois meses no hospital Santana da Parede, especialista em ortopedia, onde fui operado pela equipa do Dr António Martins logo que dei entrada. O médico não me deixa por de pé antes dos 3 meses da operação (2ª metade de Outubro).
Estou cá há 2 meses e há mais de um mês que faço fisioterapia. Sinto-me revigorar, muitos músculos a voltar à actividade e o ânimo a fortalecer-se.
Antes tinha um corpo feito de gelatina, sempre imóvel e a regredir fisicamente. É incrível como os músculos imóveis perdem rapidamente as suas funções!
Agora sinto-me renascer e invisto muito no exercício físico. Conto ser transferido para o Centro de Reabilitação de Alcoitão na próxima semana onde espero acelerar a recuperação.

O Equipamento
Depois do acidente fiquei a saber que as linhas da Mercury encolhem com o tempo, ou com a falta de carga!
Faço alpinismo há quase 30 anos e tenho 100% de confiança no equipamento que uso. Nunca me passaria pela cabeça duvidar da fiabilidade de uma corda ou de um mosquetão ou outro artigo de uma marca conhecida.
Revendo o meu percurso com a Mercury dou-me conta de que sempre tive gravatas à esquerda e nunca as tive à direita!
A meio da época de 2008 achei estranho ter de compensar com o manobrador esquerdo para voar a direito (recebi a asa nova em Maio 2008). Atribuí sempre esse facto a aerologia e nunca lhe dei muita importância.
Em Maio passado o Cláudio ajudou-me a medir as linhas: comparar uma linha com o simétrico do outro lado. Havia muitas diferentes e sete com uma diferença de mais de 5 cm! Piorámos a situação pois as longas deveriam ter ficado como estavam, e as curtas é que deveriam ter alongado.
Outro facto a juntar é que nunca me preocupei com os trims e passei todo o tempo a voar com ela "destrimada", o que parece contribuír para o encolhimento das bandas C e D.
Francamente, nunca dei muita importância à questão do equipamento pela experiência que refiro do alpinismo, e vivia confiante.
(Nota: no dia do acidente a asa tinha 97h)

A Psicologia do Evento
Nunca olho para a asa em voo, excepto quando sinto algo de estranho.
Lembro-me de ter olhado para cima e de tê-la visto sem carga alar, pouco depois ela aparece-me à frente. Depois disso mantive-me atento, à espera de uma configuração que conhecesse e que me permitisse recuperá-la. Isso não aconteceu e fez-me perder altitude.
Embora achasse que recuperá-la provocando uma perda seria imprudente pela falta de altitude, isso já me estava a acontecer!
Em Itália, em Maio passado, depois de uma gravata e de outros incidentes intempestivos
que aconteceram numa zona perto de rochedos e com térmicas brutas, a asa, em certo momento, iniciou uma espiral, o que foi o indício para lançar o reserva.
Em Vale de Amoreira faltou-me o indício!
Fiquei entregue à inexperiência neste tipo de incidentes e ao optimismo e à confiança de que me safaria... e não detectei o momento de lançar o reserva!

Mais Agradecimentos
Peço desculpa a todos os que me contactaram para desejar as melhoras e a quem não respondi. Foram tantos amigos a fazê-lo e tantas as manifestações de amizade, que me deixaram impotente para reagir, sobretudo sofrendo de diminuição física. Estive incomunicável nas primeiras semanas e sem vontade de o fazer nas seguintes. Ainda hoje passados dois meses do acidente quase só teclo com uma mão, mas recuperei a energia mental!!
Muito obrigado por tanta amizade e tanto cuidado.
Tenho recebido regularmente visitas de bons amigos que muito ânimo me têm dado, e tem sido bom revê-los.
Tenho a salientar uma grata aparição que tive ontem: o Rodrigo Afonso, ex-monitor do Vertical e que vive entre Serra Nevada e San Martin de Bariloche na Argentina! Foi bom revê-lo após tantos anos.
Agradeço ao Dr Fernando Pessoa e à sua equipa do hospital da Guarda terem-me operado prontamente. É bom saber que no interior do País também se prestam serviços de elevada qualidade.

Comentários
Gostaria muito que os nossos pilotos de competição fizessem os seus comentários ao que exponho acima e que publicaria aqui. A troca de opiniões, mesmo que divergentes, só nos enriquecerá!
Espero que mais acidentes sejam divulgados e analisados: comecemos com o meu.
Obrigado.

Futuro
Próximos meses a recuperar, voltar a casa dentro de um a dois meses e voltar à VIDA e ao trabalho. Espero conseguir recuperar totalmente do ponto de vista físico e neurológico, dizem-me que na maioria das vezes é só uma questão de tempo.
Também já conjecturo que asa irei comprar para a próxima época.


Fotos: Beta Nunes

quinta-feira, setembro 03, 2009

sLOVEnia, Campeonato Polaco, Ago 24-29
















por Nuno Virgílio


buenas!
de volta da Eslovénia, um dos sítios mais bonitos onde já estive, e um sonho
para qualquer voador.
não tinha net lá pa ir actualizando a cena.. mas aqui vai:

montanhas fantásticas a toda a volta e voos para todos os gostos. desde o relax em condições suaves até ás cristas de rocha mais arrepiantes para record do mundo de velocidade (100km e 200km ida e volta, todos ali)
quando não se voa há também muito para ver e fazer. rafting no Soca, planadores, bike, trekking ou o programa cultural: fiquei a saber que a maior parte das encostas onde voamos foram cenário de um dos mais violentos episódios da 1ª guerra mundial, e entre outras coisas serviu de inspiração para o "Adeus ás armas", do Hemingway.

voltando ao tema que interessa, as 1ªas mangas foram pra aquecer e conhecer o local. depois deu pra carregar mais a sério mas os gajos não brincam. havia uns pilotos locais (incluindo o Urban) que todos os dias voavam a manga mas não estavam inscritos.
resumindo iam sempre a abrir e não tinham nada a perder.
na
4ª manga foi alucinante, íamos um grupo de 5 ou 6 a abrir que nem tolos pelas paredes a fora, picamos a baliza no meio do vale, contra vento, e o regresso á parede era tb contra vento.
ficamos todos baixos e foi ligar o modo
sobrevivência, ainda deu uns ares que ia resultar mas depois alguém desligou a térmica.
só um sortudo se safou com uma bolheca a 20m do chão, nem ele sabe
como. meia hora depois passa o pelotão que dar uma "ganda bolta" pa fazer a baliza.
quem não arrisca não petisca...

a prova é sempre na mesma zona e aterra-se sempre em casa. basicamente ha um vale principal onde dá pra ir sempre mais ou menos em soaring com uns canhões de +7 á mistura mas onde se anda baixo e com o vento de vale a chatear, depois há a opção do "frigorífico", que é mandar-se para trás para uma crista paralela, praticamente na vertical e de calhau daquele que arreganha o dente..
vai-se mais
alto e bem rápido mas a volta é maior. é fixe ver o ppl a separar-se aí e depois ver qual a opção que resulta melhor.

o ultimo dia foi cancelado devido a trovoada.

alguém quer ir lá para o ano?