Vou partilhar contigo o que me pareceu que se passou (pelos vídeos). Espero que te possa ajudar em voos futuros e que possamos tirar alguma lição do que aconteceu.
No filme do Paulo Nunes vens já em perda quando o filme começa. Embora ligeiramente desequilibrado, a asa sai a voar (2’’) assimetricamente. Este momento seria o ideal para tomares conta da situação mas o facto de teres as pernas ainda esticadas causou-te um momento de rotação difícil de evitar e parar.
Recuperei uma vez a minha Magus 4 numa situação muito parecida e lembro-me que foi bastante violento e extremamente físico, pois tive de dobrar as pernas bem debaixo do arnês, e afastar os joelhos ao máximo com as pernas bem comprimidas contra as laterais para evitar o twist para a esquerda, enquanto ao mesmo tempo tinha a asa a mergulhar 90º para a minha direita.
Estive muito perto do twist (tal como tu), mas penso que foi o que me ajudou a não perder o controlo da situação – dobrar as pernas imediatamente e alargá-las bem no arnês.
O controlo da asa neste tipo de mergulhos é bastante complicado de explicar teoricamente, mas a ideia é travar a asa progressiva e proporcionalmente ao cabeceio quando ela já está à nossa frente, mas só o suficiente para não a deixar abater de mais e fechar em frontal.
Por vezes no pico máximo da abatida as mãos estão muito próximas do ponto de stall. Conseguindo agarrar o tchan à nossa frente, há que levantar as mãos e deixar a asa sair a voar.
Dá-me a ideia que no momento em que dizes que ela se volta a desmontar inexplicavelmente (3’’) a terás posto em perda de novo inadvertidamente e talvez numa tentativa de recuperares o equilíbrio no arnês(?) (será este o “outro momento em que metade da asa quer voar mas nesse momento estou todo retorcido e com um braço para baixo, travando-a”?).
No entanto entras directo numa perda bem puxada (tão puxada que as pontas da asa batem palmas) e razoavelmente estável (3’’-5’’). O que não é mau de todo se conseguirmos sair bem dela (ou tivermos suficiente altitude para corrigir possíveis erros). Parece-me que começaste a largar manobrador no momento em que ela inicia o primeiro mergulho à frente (o mais violento, e o absolutamente proibido de largar para sair).
O que largaste foi suficiente para permitir a asa sair a voar com tal energia que entras em tumbling e acabas com uma parte da asa agarrada a ti.
Quanto à análise do equipamento, foi realmente um grande erro nosso ter encurtado as 7 linhas quando na verdade precisávamos era de ter esticado as outras “57”. Eu não o sabia na altura e só mais tarde vim a saber que o lirus tem grande tendência a encurtar com a humidade e não a esticar com o tempo e o stress a que as linhas são sujeitas durante os voos. Ainda falei contigo sobre isso, mas acabámos por não fazer mais nada em relação ao assunto…
Quanto à próxima asa, deixo-te um conselho:
Há um proto da Ozone que parece estar a andar muito, tem partes em carbono e um planeio filha da …. Brincadeirinha :)
Agora a sério, quando dizes “Depois disso mantive-me atento, à espera de uma configuração que conhecesse e que me permitisse recuperá-la. Isso não aconteceu e fez-me perder altitude” levas-me a pensar na diferença das várias classes de asas. E como bem sabes, uma asa de competição precisa de ser pilotada activamente a todo o momento. Dar um passo atrás na escolha da asa por vezes é o mais acertado, e o que mais nos faz evoluir. Explorar uma asa ao máximo antes de passar ao próximo nível ajuda bastante. E quando falo em explorar ao máximo, significa explorar tudo, desde a asa abertinha a levar-nos pra lá dos 100km, como a asa feita num trapo, em condições turbulentas e a precisar de sair a voar. No teu caso e com pouca altitude, o esperar por uma configuração conhecida não ajudou. Penso que será bom fazermos um SIV, para explorarmos ao máximo as asas que voamos e assim sabermos sempre o que fazer em todas as situações.
Boa recuperação e até breve, na nuvem! ;)
Um Grande abraço,
-- Cláudio Virgílio
PS: O ideal seria aprendermos só com os erros dos outros...neste caso é uma merda porque és tu a arcar com tudo e a servir de "exemplo" para aprendermos todos mais algumas coisas... Esqueci-me de acrescentar uma coisa no texto, que é simplesmente a manutenção feita por mão especializada no assunto. Principalmente ao nivel das linhas quando se faz mais do que uma época a voar uma asa com fios finos...
quarta-feira, setembro 30, 2009
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6 comentários:
Grande Cláudio,
Excelente comentário que fazes e que muito te agradeço.
Um gajo precisa que não sejam sempre simpáticos connosco, e que nos digam a verdade: que errámos com todas as letras!
Tens razão quando dizes que eu não devia ter esperado, e a verdade é que não sabia o que fazer e fui demasiado destemido e/ou optimista para não lançar o reserva...
Muito obrigado.
um grande abraço
Gonçalo
Obrigado pela tua análise, sem dúvida que nos ajuda a perceber o que se passou.
No que diz respeito à asa, passei de uma 2-3 para uma 2, e foi o melhor que possa ter feito!
Um abraço,
Sérgio
Então Gonçalo? Como vai a recuperação?
esqueçi-me de pedir o teu conatcto qundo estive aí no hospital.
Um abraço
Miguel Cruz
Olá Gonçalo, foi mais ou menos esta interpretação que fiz também, pelos vídeos, e que transmiti da última vez que nos encontramos.
Há realmente que apostar na segurança activa (nomeadamente os SIVs)
claro que há sempre alguma situação nova, e ninguém está a salvo de um embrulhanço. o cerne da questão está em ter a capacidade de reconhecer o momento em que o reserva é a única solução viável. e não hesitar.
bora aí agendar umas manobras de reset? Bitoke safe meeting - over the water, not over the knee ;)
Excelente comentário do Claudio
Acrescentaria apenas o seguinte:
-Parece-me que voares com a asa sempre destrimada, conforme referes, aumenta drásticamente a "potência" e velocidade dos movimentos e acelerações da asa aquando dos incidentes e não só.
-Por outro lado é sabido que as asas pequenas, e a tua é uma XS se não estou em erro, são muito mais "selvagens" nas reacções o que é bem evidente no filme.
-Quanto ao material Liros, ressalvo que o material que estica e encolhe é o Dynema. A fibra Dynema é uma fibra com base de piolyetileno que sendo muito mais resistente aos UV e abrasão e durável que os vulgares cordões de aramide, tem um defeito grave, encolhe com a temperatura elevada, a falta de tensão e também eventualmente com a humidade, esticando também com a tensão permanente. Assim o fabricante tem que ter especial cuidado com a pré-tensão dos cordões antes de os fabricar, bem como a carga em voo dos mesmos, porque se houver grandes desfasamentos de carga em voo,vai haver inexoravelmente alterações de comprimentos.
Como sabemos que os pontos A e B suportam a maioria da sustentação produzida, ficam os C e D com pouca tensão o que proporciona o encolhimento destes e alongamento dos A e B.
Conclusão: Asas de competição com cordões de Dynema só após anos de provas dadas...
abraço e as rápidas melhoras
Roque Santos
Gonçalo
PF corrige para polietileno no texto que te enviei (piolietyleno foi erro de digitação) só agora reparei
abraço
Roque Santos
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