sábado, dezembro 31, 2005

Para Onde Foram Todos?!



por Álvaro Segadães


Corria o ano de 2006

As memórias de um verão quente e de ventos fracos, preenchiam a alma, tranquilizavam o espírito. Como se tivesse sido ontem... os grandes voos, a térmica potente e suave. O Agosto ia longe, mas as memórias continuavam frescas, quase palpáveis.

O som intermitente do vário, permanecia nos ouvidos e acompanhava o nosso próprio respirar soando nítidamente a cada inspiração, e calando-se quando, de um sopro só, expelíamos o ar dos pulmões.

Aquele som omnipresente que nos acompanhava até durante o sono, e que nos proporcionava manhãs descansadas e sorridentes.


Como tinha sido bom ouvir o vário acompanhar as espirais ascendentes da nossa nova companheira, trepadora de térmicas. Nunca se tinham visto tantas asas novas, como neste verão de 2006.

Parecia que, de repente, toda a gente tinha decidido ter chegado a altura de dar um passo m
ais e passar ao modelo seguinte, mais avançado, mais exigente também. Alguns trocaram de marca, outros apenas de modelo.

As performances das novas asas permitiram-lhes, em qualquer dos casos, bater marcas pessoais, de altitude, de permanência e de distância. Os cursos nível IV de Março e Junho, trouxeram sangue novo às serras e garantiram uma temporada sem acidentes.

Pilotos e instrutores eram unânimes na sua apreciação: 2006 foi, até agora, o melhor ano para o Parapente Português!

Que saudades, do verão passado...


Outubro passou, também. Este início de Novembro trouxe-nos, felizmente, sol e vento fraco. Quente, para a época. Condições para recordar, voando bem. Nada como o verão mas, ainda assim, excelentes condições de voo: tecto alto, cúmulos dispersos... a merecer sacrificar uma semanita de férias.

Domingo, manhã cedo, descolagem sul, no Larouco. Vento NW-3 Km/h.
Esperar que aqueça e que apareça mais gente, com um dia destes...
11 horas, vento SSE-8 Km/h, formam-se os primeiros cúmulos, discretos.
11h45, os ciclos são agora regulares. Ao alcance da visão, 3 cloud-streets, bem alinhadas, paralelas, a perder de vista... Mas, porque raio é que não aparece ningu
ém?





















Que é que estes gajos daqui, sabem, que eu não sei? Onde é que se meteram todos? Porque é que não vêm voar? Afinal, é domingo! Um dia destes...


Não descolo. Vou à descolagem Norte, com o carro a bater em tudo que é pedra, furioso. Ninguém. Só as mangas, tristes, caídas... Que se passa?

Chamo por rádio... silêncio. Nada. Resposta, nem em Português, nem em Galego...

Arranco para Moncorvo... ninguém. Nem uma asa no ar, em todo o caminho. Corri todas as frequências de rádio que conhecia e, nada. Bornes, Macedo, Mirandela... igual. A esta hora, não admira, quem quer que tivesse descolado, fê-lo mais cedo. Como é que fui perder o telemóvel, logo numa altura destas...

Estarão todos fartos de voar? Fartaram-se no verão?


Durmo, em Mirandela. Melhor, alugo um quarto em Mirandela. Como agora cada um tem o seu fórum, passo a noite a percorrê-los à procura de alguma notícia, algum encontro de que eu não soubesse? Nada, não havia mensagens recentes em nenhum deles. Vá lá, que as previsões continuam excelentes, para os dias seguintes.

Segunda-feira. Parto cedo, para o Sameiro.
A placa à entrada do Parque quase me põe a chorar:
“ Escola de Parapente – Reabre em Dezembro “

Em Dezembro? Estamos no início de Novembro, uns dias assim...
Subo à Azinha. Nem os vigias lá estão.

Quatro mangas a rirem-se de mim, bem alinhadas, todas! Estas p... que teimam em estar, quase sempre, uma para cada lado. O vale limpo, vê-
se nítidamente a Torre, a Gardunha, os cúmulos altos, por todo o lado, como que a decorar a paisagem para o Natal que se aproxima...

Mas onde é que se meteram aqueles car... todos? Descolo?
Estou sózinho, sinto-me sózinho. Já cravei o Bruno, uma vez, para vir cá acima comigo buscar o carro... não vou pedir-lhe outra vez.

Linhares, dou um salto a Linhares e voo lá.
Placa, na porta da Escola: “Férias”


Férias? Está toda a gente de férias? Será que a gripe das aves também ataca parapentistas? É uma epidemia? Estou furioso, será um sintoma da gripe? Fui apanhado?

Dia seguinte: Porto da Espada. Ninguém.

Montejunto, Arruda, Arrábida, Loulé... percorri o País todo numa semana, sem voar! O País todo! Sem voar! Nem nas praias, o vento aí era fraco para o dinâmico, mas no interior as condições eram óptimas! Ninguém, não encontrei ninguém!

Sexta-feira, um farrapo, volto a Lisboa feito um trapo.

A FPVL! Lá devem saber o que se passa! Nem telefono, vou direitinho aos Olivais.
Boa, a Secretária está lá.
Nem me deixou abrir a boca:

- Quer informações sobre escolas de Voo Livre?
- Escolas? Não, eu sou piloto, só queria saber...
- Piloto? E está aqui?
- Não devia estar? – pergunto, já com a certeza de que estava a dar barraca.
- Não... bem, pode estar mas...
- Onde é que está toda a gente? Por favor, diga-me: Onde é que está toda a gente? Percorri o...

Olhou-me, bem nos olhos, como se estivesse a falar com um marciano, ou a ensinar a tabuada a um peixe:

- No Ceará, homem! É Novembro! Estão todos no XCeará!

Feliz 2007!

Álvaro Segadães

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Quem quer voar uma asa de competição?

Na revista Cross Country de Nov-Dez 2005 o Bruce Goldsmith apresenta reflexões sobre quem estará apto a voar asas de competição.
Refere que o aspecto crítico na pilotagem destas asas é ter-se a intuição de controlar o ângulo de ataque da asa num intervalo de O a 15º: se o ângulo de ataque ultrapassar os 15º negativo há o risco de sofrer-se um fecho frontal, se o ângulo ultrapassar os 15º positivo o risco é o de a asa entrar em perda.
Assim, adianta os seguintes critérios como condição para um piloto se iniciar numa asa de competição:
a) Ter um mínimo acumulado de 500h de voo nas mais variadas condições,
b) A sua asa anterior ser dhv 2-3, ou no mínimo dhv 2,
c) Realizar regularmente voos de distância de 50 km no mínimo,
d) Voar pelo menos 100h por ano.
Se o piloto não cumprir todos os critérios enunciados não deverá considerar voar uma asa de competição.
Acrescenta que idealmente o piloto deverá voar 200-300h por ano.
Refere também que a prática recente é muito relevante: se o piloto não tiver voado em condições térmicas nas últimas 2-3 semanas deverá fazê-lo com cautela pois estará algo destreinado. O facto de já ter voado intensivamente no passado mas não o ter feito no último ano, recomenda que recomece com uma asa dhv 2-3 ou dhv 2 para se recuperarem os reflexos e a experiência de voo.