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por Gonçalo Velez
O voo que melhor recordo este ano foram os 96 km que fiz da Azinha até à estação de serviço de VV Ródão em Ago 6.
Um voo de distância é sempre muito aliciante pois vive-se constantemente na incerteza!
Um voo de distância é composto por momentos antagónicos de climax por estarmos altos e a avançar, e por momentos de angústia em que voamos a descer e não encontramos nenhuma térmica.
Depois, deparamos com a contra-angústia: uma térmica!
E voltamos à euforia, ao optimismo, ao sentimento de que o voo foi recuperado, de que tudo volta a ser possível (ou deparamos com nada e resignamo-nos ao insucesso).Passei o aeródromo da Covilhã a baixar imenso, vi outras asas ao longe (E Lagoa, Nuno V, Paulo Nunes), mas adiante formou-se uma constelação enorme de cegonhas dentro de uma térmica. Que bonito, mas antes de lá chegar entrei noutra e consegui subir o suficiente para planar daí até à barragem da Lardosa, passando a serra da Gardunha bem alto.
Na barragem fartei-me de sondar o espaço sem grande sucesso. Só quando passei a sotavento desta (lembrei-me do que o Diogo me dissera: sotavento de lagos solta térmica) tornei a encontrar outra térmica que me fez subir muito.
Daqui até VV Ródão foi enrolar aqui e ali para repor alguma altitude, mas continuei sempre confortável.
O que melhor recordo deste voo foi sobrevoar as Portas do Ródão a 3200m com uma magnífica paisagem a meus pés!
Não voei mais adiante pois não queria complicar a recolha e por isso mantive-me sempre sobre a A-23. Depois da estação de serviço, ainda alto, só vi floresta dos dois lados da autoestrada, por isso decidi aterrar ali.
Outro factor que não consigo contornar é o aperto na bexiga. Estive com o fato aberto, disposto a deixar-me salpicar um pouco mas não consegui urinar. É frustrante, penso que seja devido à posição estranha do corpo e talvez a algum stress...
Bom Ano Novo!
por Pedro Lacerda
Isto deve ser da lua ou das marés ou da chuva.... não sei.
Sei que tem havido ultimamente demasiados acidentes e incidentes com pessoal nosso. Acidentes refiro-me ao do António, para quem não sabe partiu um pulso, incidentes refiro-me a quase acidentes que por acaso e por sorte e por ... tudo acabou em bem. Com ou sem a consciência do piloto envolvido. Hoje na praia grande houve um arborizanço daqueles à filme com o piloto pendurado num eucalipto a 5 metros do chão e a asa na copa. Ya eucaliptos na praia grande são muito longe eu sei.
Também tive um filme hardcore hoje: A praia Grande estava em Grande com uns conjestus a passar e a dar termiquinha altamente, subi 300m por cima da deco numa vez e quando estava todo contente a enrolar para subir ainda mais numa segunda vez dou de cara com um helicóptero à minha altura e a vir na minha direcção (não estou a aumentar nada, vinha mesmo à minha altura e direito a mim) fiquei naquela: ele vê-me! Mas não viu, ou viu e era desprovido de inteligência, espiralei dali para fora e reparo que se desviou o mínimo passou bem perto e felizmente a sotavento de mim, a turbulência que senti foi calma. Por causa dos ganhos de hoje andei sempre à coca de possíveis encontros do 3º grau, passou o aviocar e várias avionetas e um ultra-leve e com todos percebi haver percepção uns dos outros e distâncias muito aceitáveis. Mas aquele não.
Mas ao que me fez escrever este mail. A estatistica : Amigos que andam como eu neste processo de aprendizagem do parapente e do voo livre. Este desporto passa por algum trabalho de casa. De ler sobre meteorologia, aérologia, aerodinâmica da asa, dos comportamentos da asa e mais todos os artigos e filmes que conseguirem arranjar sobre o assunto. Depois penso que a progressão como piloto passa por etapas. Essas etapas podem ser mais obscuras ao principio por não saber bem por onde se pegar.
MAS... começa-se sempre pelas coisas básicas, que são mais simples mas por isso não se podem passar por cima. Dou um exemplo: depois do curso os pilotos saídos da escola têm de saber inflar mas eu garanto-lhe que sabem mal. Sabem o mínimo, sabem “aproximadamente” inflar nas condições que estavam quando tiraram o curso.
Se não sabem inflar em condições fortes ou fracas devem treinar e isso pode implicar não voar.
O voo na praia em dias clássicos é democrático, sobem todos! O que anda a aproveitar o termodinâmico xpto e o que faz piscinas é igual. Depende da asa e da carga alar. Mas os problemas começam quando não estão as condições clássicas, é ai que o trabalho de casa entra em cena. Outro exemlo: quando estão 20km/h de NW na praia grande fazem-se as piscinas mais conhecidas, vai-se ao marco geodésico e vem-se à deco e volta, se estão 30 e não tenho tenho grande experiência ...se calhar o melhor é ficar a ver, mas de certeza que não se vai pa cima do marco, o vento acelera com a altitude, e ainda mais acelera por cima da falésia. Outra: se toda a gente está mais baixa que eu num dia forte é o quê? Sou um granda piloto, os outros são todos otários ou o otário sou eu? Se reparar bem até estou a ficar parado ou a andar para trás. E subi aquilo tudo porque só sei fazer as piscinas que me ensinaram por cima da falésia esteja forte ou fraco.
Qual é a direcção exacta do vento quando estou a voar? (não estou a falar da que me disseram na descolagem) Qual é a velocidade? Aumentou, fraquejou? Onde estão os outros? Será que tenho de passar a rasar os gajos? Aterrar na praia não é desprestigio, desprestigio é enfiar de cabeça num top-landing meter a asa em perda ou negativo. Voar mais à frente da falésia não é para piços, é para quem tem arte e ainda por cima é mais seguro.
Há sempre o problema da imitação? Se o “gajo” faz, porque é que eu não faço? A resposta é simples porque estás a queimar etapas, para fazer um SAT deve-se dominar o full stall, o spin, e a espiral instalada (nose down). Para andar a fazer wingovers na praia tenho de perceber o comportamento da asa, saber voar em condições mais fortes e condições mais fracas saber inflar perfeitamente, Albinos incluídos, desculpem Alpinos. Top-landings simples e complicados.
Outra: NÃO SE FAZEM VOLTAS CONTRA A FALÉSIA!
Sei que parece básico mas já vi fazer bué!!! É das tais coisas, dá para fazer com toda a segurança mas para chegar ai já se passaram muitas outras etapas. Fazer uma volta rápida uma lenta uma rápida a perder o mínimo (plana) só com o corpo, com o freio de fora..... ui é uma imensidade de cenas a aprender antes de querer andar a imitar o Rui Simpson a voar, é teino. E se virem o gajo a voar vejam com atenção. Não é ver o ângulo que ele consegue num wingover (xiii ganda maluks), é como é que ele faz: quando é que mete o comando, quando é que mete o corpo, quanto comando das duas mãos se usa quando a asa está toda baldada debaixo dele? E mais, não é medido a cm é medido a sensações. Meter um negativo a voar não é a morte do artista, a morte do artista vem quando não se percebe que o negativo entrou. Isso ainda por cima dá para aprender isso a inflar, ou a voar na duna a 1m do chão se estiverem disponíveis a comer um bocadinho de areia. Porque tralhos desses pedagógicos não são tralhos são bençãos, aprende-se, testa-se e aprende-se. O pior é quando há um incidente e não aprendo com isso. Se ponho a asa em perda a aterrar e acho normal, acho normal eu, que vai vir o dia em que a perda entra a 5m do chão e ai já é acidente.
Estou a escrever estas baboseiras todas porque assisti a cenas ultimamente bastante parvas. Não quer dizer que não possam acontecer a mim que tou aqui armado em cromo!
Mas fica a ideia: TREINO. Esta merda precisa de TREINO e saltar etapas é a melhor forma de depender da sorte. Não tem nada a ver com ter coragem ou deixar de ter. Acho que não ter medo é uma grande qualidade num piloto! Agora não ter consciência do que está a fazer ou do que lhe aconteceu é falta de trabalho de casa e uma falta grave.
Se conseguiram ler isto até ao fim aproveito para mandar beijinhos.
Beijinhos
Lazerda