terça-feira, abril 10, 2007

Interrogado pelo Man do Dia

Como uma Térmica me Abandonou no Campo de Tiro de Alcochete

por Pedro Lacerda

Fui na tal folga de talhante para a Arrábida ontem e as condições estavam mais ou menos engraçadas: entravam ciclos de sul e de norte daria para descolar para qualquer dos lados, embora parecesse que o norte tinha mais força. Mas estava sozinho e não descolaria para norte sozinho, é um sitio desgraçado.
Telefonei ao pessoal da zona e andava tudo indisponível, voltei para a deco de sul e fui voar. Estavam ciclos fraquitos e não se subia mais que uns 50m por cima da deco e por duas vezes vi a coisa mal parada a ficar baixo, fiquei uma hora nisto sobe e desce até que ganhei um conhé e como a deriva estava a ser com vento de SE fui até ao lado da rampa, olho para a manga antes de chegar e está hirta a apontar para cima foi lindo umas voltinhas e cabum uma térmica a sério finalmente daquelas com força e alegria, estava um cumulo a formar-se por cima do Formosinho e aquilo era tudo da mesma familia bora ai nuvem com ele.
As nuvens estavam como de costume por detrás da serra mas nesse momento aproximaram-se mais e estavam ao alcance, as derivas estavam meias taralhocas e lembro-me de ver oeste o que me fez pensar que estava do lado errado da confluência e que aquela termica tinha rebentado porque o oeste estava a chegar.
Mas até à serra de São Luiz foi àbrir de acelerador metido e a perder pouco enrolar seguir bando termica outra vez, palmela termiks mais complicada acho e ali a linha dividia-se e tinha de decidir pela esquerda rumo mais norte e cúmulos com aspecto gordinho e direita a contornar o Sado e Alentejo eventualmente mas com um ar mais rarefeito.
Voltei um bocadito para Setubal para me colar mesmo à nuvem (paisagem deslumbrante essa da entrada do vale de Setúbal com Tróia ao fundo) e segui para NE o vento e as térmicas tinham derivas um bocadinho taralhocas mas a média parecia-me de vento de SW e tinha razão era o que mais se impunha. Depois de Palmela a linha de nuvens era mais esparsa e era preciso andar com cuidadinho com os ciclos avacalhei uns e ia-me lixando, mas uma térmik de cheiro de merda de vaca lá salvou a cena, ali a começar uma zona de árvores depois do cruzamento das auto-estradas.
O tecto esteve sempre aos 1400m as nuvens funcionavam a barlavento e lixei-me por causa disso, quis ser mais rápido a passar de nuvem para nuvem e caguei num zeranço para arrancar para uma nuvem mais longe, tinha corrido bem até ali aquela também ia correr mas não correu, sobretudo porque congelei quando vi que o campo fixe que tinha ao lado era o campo de tiro de Alcochete e o aeródromo que tinha do outro lado não era um aeródromo civil onde param os taxis.
Granda bico descendente po chão directo. Eu até tenho alguns desenhos mais importantes de espaços aéreos no MLR mas tinha ido abaixo com falta de bateria. Mesmo assim duvido que visse porque uso um zoom muito apertado para perceber isso. Pronto aterrei, passado pouco tempo tenho um jipe de policia da força aérea ao lado com dois policias novos porreiros e acho que motivados para a modalidade.
Avisaram o quartel e deram-me boleia para o Oficial de Dia que era quem ia tratar do assunto. Perguntei se ia ser preso e eles diziam que não a rir e na boa bué interessados como é que tinha chegado ali.
Perguntaram-me se conhecia alguém da FA que podia ser útil no embrulho que se ia seguir. Pensei nisso mas como piada.
Quando conheço o Oficial de Dia vejo que a cena pode ficar muito mal parada, venho cá para fora pego no telefone para falar ao Afonso a dizer onde andava estava a voar. Quando desligo o telefone o policia novo diz-me com um ar sério : olha se tens conhecidos na FA é agora o momento de falares. Ligo ao CGAU e entretanto vem o tal do Dia a dizer que estava detido e não podia fazer comunicações com o exterior, como estava a chamar ainda falei com o CGAU que se riu e perguntou que marca fumava para me levar à xoldra. Ou seja estava a achar entre alguma e nenhuma piada à situação.
Lá estive a ser interrogado pelo senhor do Dia que não deve ter ido às aulas de interrogatório, mas pronto, até que me telefonou o Major Diogo que era o responsável pela segurança me fez umas perguntas de como e porquê etc... e disse que já vinha ter comigo, esperei mais um belo bocado a ser interrogado pelo senhor do Dia.
Ah ainda tive uma boa que foi telefonar à Babeth com autorização do comando, para ser ela a ir buscar o Rafa, e ela não percebia nada do que eu dizia. Incrível parecia um filme um gajo vai preso e no telefonema a que tem direito não consegue porque não há rede.
Ainda à espera, o men do Dia ganha algum embalo devia ter estado a preparar a coisa e começa a ficar mais desconfiado e pediu para trazer o parapente para dentro do escritório e que o abrisse à frente dele. Fui abrindo devagarinho numa de primeira aula de parapente com os alunos etc, ainda não tinha desmanchado nada de trabalhoso sou salvo pelo Major Diogo que entra.
O nível da conversa sobe um bocado grande, este Major era uma pessoa esclarecida e interessante, que me deu um belo sermão com toda a razão, a razão da minha segurança primeiro, depois a das leis etc. Foi como se costuma dizer um gajo porreiro e mandou-me embora.
Ofereceu-me boleia no autocarro da FA que estava de saída para Vila Franca que agradeci e apanhei, voltei para casa de comboio fui buscar o carro à noite à Arrábida.

Fiquei chateado com o ter sido ganancioso na ultima térmica e por causa disso ter ido parar ao chão. Aterrei às 15h ainda tinha bué horas pela frente de dia útil. Só começou a estragar mais ou fim da tarde com os desenvolvimentos a crescerem muito. O Lado Psico do nosso desporto é tramado. Faltou-me a ratice e fui para o chão.
Pronto não vale a pena chorar no leite derramado. Foi a bela aventura.

Lazerda

1 comentário:

ricardobsilva disse...

Encontrei este blog por acaso e gostei de ler alguns relatos. No entanto este "incidente" apresenta uma falha grave do parapente: o não cumprimento e por vezes desconhecimento do espaço aéreo. Também já practiquei parapente (na altura nem sabia o que era espaço aéreo) e actualmente sou piloto de ultraligeiros, pelo que entendo os dois lados. Mas acreditem que os espaços aéreos devem ser respeitados. Entrar no CTA num dia de semana como aqui relatado, é colocar a vida em perigo, já que aqui existem movimentos aéreos de fogo real.