quarta-feira, novembro 22, 2006

Voar numa canoa

por Gonçalo Velez

Comprei uma X-Rated 3 praticamente nova antes do início do XCeará 2006.
Não houve tempo de adaptação, foi voar logo com ele após uma regulação ao fim do d
ia com muito pouca luz. Por sorte regulei-o bem, éramos alguns 6 pilotos de cervejas na mão à volta do arnês que pendurei num telheiro do hotel.
Curiosamente foi no 1º voo que talvez me tenha sen
tido mais confortável, embora com pouco apoio no cima das costas. Depois fui fazendo pequenas alterações cada vez que aterrava. Ainda não me sinto totalmente confortável. E ainda a tenho a voar na horizontal, sendo que a posição correcta sejam as pernas apontando ligeiramente para baixo. Ainda não sei bem qual a inclinação das costas que me convirá mais. Um francês disse-me para desapertar tudo e começar do zero, o que não fiz, mas que foi o que ele fez.
Não percebo por que estes aparelhos tão complexos não
trazem um manual. Há-de haver uma sequência lógica de regulações.
Desapertei totalmente o ventral e as alças dos ombros e gosto da sensação dos movimentos da asa.
O que não sei é se vou conseguir voar encafuado, com as pernas sempre paralelas e com pouca mobilidade. É a sensação do kayak. Estava habituado a deitar-me para o lado e cruzar as pernas. Agora isso não é possível. Só se consegue levantar (pouco) uma perna e fazer pressão com a coxa oposta e pender a cabeça para o lado para que se vira... Não é nada prático pilotar com movimentos de cabeça!
No que respeita à pilotagem com o movimento do corpo sinto uma grande regressão.
Os mosquetões também não estão suficientemente baixos para que a viragem
se faça com facilidade. Talvez esta altura se justifique com uma dhv 3, mas não com a minha dhv 2.
O Paulo diz-me que a asa gira mais plana, mas não tenho a certeza.
O espaço de armazenagem é reduzido, ainda mais do que na X-Rated 2, mas consegue-se encafuar a bagagem, se bem que o ventilador traseiro me parece que fica saído, quando essa pala devia estar para dentro. Isso acontece por excesso de bagagem.
A minha mochila no Cear
á pesava 30 kg com 3 ltr de água! A selette pesa mais 5 kg que a minha anterior Charly Zip-II. Não é possível correr com tanto peso para descolar num dia sem vento na Arrábida ou no Larouco.
Cheguei a suar das pernas quando o tronco estava fresco devido ao isolamento do neoprene, é um contraste grande, talvez exagerado.
Ela traz uma grande vantagem no uso do acelerador pois ele está sempre posicionado no local certo e é muito fácil de encontrá-lo.
Esta s
elette pode ser um benefício do ponto de vista da aerodinâmica, mas desconfio que não o será em conforto. Ainda não a considero definitivamente regulada. Há tantas combinações de ajustes a fazer... Ainda não estou convencido.
Relativamente às selettes canoa oiço dizer que este é o modelo mais completo, mais bem acabado e mais versátil.
Alguns franceses andavam excitados com a equivalente Avasport...

fotos: Woody Valley, William Mevo-Guyot

8 comentários:

Anónimo disse...

Grande post!!
Também tenho andado a considerar trocar de arnês e um tenho pensado porque não um deste tipo ainda que não uma X-Rate, é muito p€€€€sada.

Desde que ando a voar com estribo sinto-me mais relaxado, gosto de voar com as pernas semi-esticadas e com apoio, mas também é verdade que na maior parte do tempo apenas tenho um pé apoiado no estribo, cruzando a outra perna por cima e vou alternando em função do vôo que "tento" realizar. Especialmente quando enrolo ou giro também estou habituado a baldar-me para o lado de dentro da curva e aí sem excepção cruzo as pernas, é o que parece natural.
É precisamente neste aspecto que tenho as minhas dúvidas. Eu conheço a sensação do Kayak e sinceramente para mim é muito incómoda. Ao fim de algum tempo acabo por ficar com as pernas dormentes. A prática também é muito esporádica.

Seria interessante ler comentários de outros utilizadores deste tipo de selletes.

Anónimo disse...

Eu tive oportunidade de experimentar a cadeira integral Independence Geko.
Pese embora a minha reduzida experiencia e, nenhuma com este tipo de cadeiras, aqui vai a minha opinião: Voei com uma Radical S, não homologada, com condições de voo suaves e achei a cadeira muito confortável. Mais confortável mesmo que o meu arnês normal Permite regulação perfeita da inclinação e ajuste da tábua de assento Melhor controle nas rotações com a inclinação.
Eu voei bastante largo na tira de peito (cerca de 50 cm) e senti-me muito bem. O Bico interior tem uma placa que serve para encostar os pés como um estribo normal Permite regular o comprimento das pernas, mas atenção que a fábrica indica os tamanhos para as alturas respectivas, com uma margem muito diminuta.
Pelo que vi deve-se respeitar o que eles dizem para ter-mos margem de manobra em relação à regulação. Em voo pode-se adoptar uma posição de voo menos radical e, também, fácilmente recolher as pernas e reduzir o efeito giroscópico em caso de turbulencia ou rotação induzida.
A bolsa para equipamento é normal em relação ao meu arnês spider. Só um contra, pesa mais 1 kilo e tal que o meu arnês XC Independence Spider ou seja 5,6 kg contra 7,2 da Geko. Não sei se é efeito psicológico ou aerodinâmico mas pareceu-me voar a ouvir menos zumbido do vento na face Para já fiquei completamente vendido a esta cadeira, pelo que se for visto por aí a voar com ela é porque gostei mesmo... e nada mais.

Roque Santos

Nuno Virgilio disse...

Jorge a sensação do cayak é diferente pq n tens apoio nas costas, com este tipo de arnês não corres o risco de ficar com as pernas dormentes, no entanto a sensação de clausura pode ser desconfortável ao início. Além disso podes sempre dobrar as pernas, nem que seja para arejar, qd está calor. Outra questão é que o apoio é uma placa e não uma barra pelo que não será tão rígido, não encaixas da mesma forma que numa cadeira com estribo.
A tendência destas cadeiras é terem os pontos mais altos para compensar o aumento da inércia de rotação e de certa forma compensar o aumento do risco de twist em caso de incidente, o reverso da meldalha é que são muito menos pilotáveis. Foi talvez a maior diferença que notei e que me obrigou a adaptar o meu estilo de pilotagem. As vantagens são o aumento inquestionável da performance da asa, e o conforto térmico ( Roque penso que o facto de sentires menos o vento na cara é mesmo consequência da ordenação do escoamento em torno do perfil criado, além da carenagem nas pernas, o resto do corpo fica menos exposto e o wind-chill diminui). Para terem uma ideia a proporção de ganho é mais ou menos semelhante á diferença entre uma asa com linhas revestidas ou com linhas de competição (no mínimo, menos 1/3 de área frontal -do piloto- equivalente).
No final penso que o ideal será testar antes de decidir, pesar os prós e os contras de cada um e avaliar as diferenças entre os modelos diponíveis.

No meu caso estou bastante satisfeito com a Impress: a carenagem das pernas é facilmente amovível (embora não costume tirar); tem 2 espaços para carga enormes (um deles debaixo do traseiro -onde pode levar lastro ou qq outra coisa sem alterar o centro de gravidade - e cockpit integrado na carenagem das pernas); no geral é bastante rígida o que evita desconforto em voos mais longos pq n se deforma; o preço tb é o mais competitivo do mercado, o que foi um factor decisivo para mim.

Nuno Virgílio

Anónimo disse...

Olá, quando pratico parapente gosto de sentir que estou a voar e para mim a cadeira contribui muito para isso. A pouco tempo troquei a cadeira Profeel xc que me deu muito gozo durante muitos anos pela Impres, porquê? Em 2005 troquei de asa dhv2 por dhv2 com a qual estou muito satisfeito com a perf. e segurança que ela tem mas é mais lenta a girar logo preciso acionar mais comando o que fazia diminuir muito o planeio, ao ir para a impres pretendia corrigir isso, ir para uma cadeira mais dinâmica que não necessita-se de tanto comando durante o giro e bingo, acertei em cheio, ,em voos longos acabaram-se as dores de costas devido ao conforto que ela tem, menos comando para girar, compensa melhor a falta de comandos = diminuição de colapsos, notei também que voo com mais velocidade principalmente em turbulência ou rajadas pois mantém a velocidade mínima mais alta devido ao arrasto ser menor. Sempre gostei de voar com os pés no estribo, esticado e um pouco deitado, por isso a adaptação a impres foi fácil. Em turbulência, enquanto que na profeel tinha que me colocar na posição de sentado na impres quanto mais esticado, melhor ultrapasso a turbulência não me perguntem porquê.

Hélder A.

Anónimo disse...

Antes de mais nada quero dizer que tanto o post como os comentários que se seguiram estão excelentes! Há uns anos atrás, quando as primeiras cadeiras tipo "canoa" apareceram, a maior parte só pensava no atrito que aquilo poderia evitar. Mas no meu caso como nunca pensei em competição a serio, pensei sempre no conforto que aquilo me poderia trazer devido à minha altura... Há uns anos experimentei uma, talvez por a pessoa nao ser exactamente do meu tamanho, me senti um pouco desconfortável, no sentido de nao estar regulado devidamente à minha maneira, e até parecia-me que nao conseguia sentir a asa como eu queria. Passado estes anos todos, vejo que tem havido uma enorme evolução, para melhor! O principal problema talvez continue a ser o preço, mas já vejo que há alternativas que vão desde os 600€ até aos 1000 e pouco, agora pergunto-me, o porquê dessa diferença toda?! O que faz umas serem tao caras comparadas com as outras? E será que essa diferença compensa? Semprei gostei de voar deitado, o que faz com que tenha que andar sempre com a minha cadeira quase toda aberta... pelo menos a parte que regula o dorsal.

Anónimo disse...

De facto estes comentários fizeram-ne entender (de certo que não serei o único), que a pilotagem neste tipo de selletes não é tão dinâmica como inicialmente imaginava. Os relatos do Gonçalo como os do Nuno reforçam isso mesmo. Em troca de mails privados com o Daniel Folhas (desculpa mencionar-te mas creio que o que me disseste é bastante relevante no actual contexto) que voa com uma Impress e está super satisfeito ele salienta isto quando diz - "O tal efeito kayac existe realmente e passas a pilotar menos com o corpo e mais com as mãos."

O Helder é que parece contrariar isto ao considerar o actual arnês mais dinâmico, mas, admito que não entendo bem o que ele escreveu.

Em síntese pensava que estas selletes:
- tinham pontos de fixação baixos, logo mais dinâmicas
- mais exigentes de pilotar
- mais confortáveis
- mais pesadas
- mais aerodinâmicas (é óbvio. Aliás o estudo do Nuno em tunel de vento comprova isto mesmo)
- cheias de "style"
- muito mais caras que as selletes "normais"
- perde-se mobilidade, especialmente no solo.

Após ler o que aqui se escreveu fiquei estou a mudar de opinião:
- têm tendencialmente pontos de fixação altos.
- a afinação das diversas correias é complexa.
- requerem uma pilotagem diferente, não necessáriamente mais exigente. Talvez até melhor para o vôo em geral.
- mais confortáveis, pesadas, aerodinâmicas e com "style"
- mobilidade condicionada.
- Podem não ser tão caros se comparar-mos com selletes "normais" topo de gama. Há selletes normais mais caras.

Outro aspecto que estou a começar a pensar na sequência destes posts é o seguinte, até que ponto uma pilotagem excessiva com o corpo não acaba por ser nociva para o desempenho do vôo especialmente quando giramos?
Que sabe bem um "baldanço", creio que todos gostamos da sensação, mas que custos isso tem?

O Paulo Reis refere - "um giro mais plano", talvez o arnês induza isso mesmo ou seja que se refine a forma como se pilota (wishful thinking?). Quando observo ele o Lagoa o Brazuka entre outros que usam "canoas" tenho a sensação que voam de forma mais "calma", "mais plana". Mas todos eles são excelentes pilotos e as asas que utilizam tem outro tipo de desempenho.

Paulo Reis se passares por aqui, deixa o teu contributo pois o que escreves é sempre interessante.

Jorge

Nuno Virgilio disse...

Jorge e demais interessados, o facto de a cadeira induzir a uma pilotagem mais "manual" e menos "corporal" tem (pelo menos) um aspecto negativo:
Não consegues uma manobrabilidade tão efectiva e quando realmente precisas dela é chato. Ok, em condições fracas rentabilizas a térmica pq giras plano, mas em situações de aperto, podes chegar a situações irreversíveis, e dou-te um exemplo do que se passou cmg:
Térmica falheira e mexida (bolhas desorganizadas) numa encosta meio sotaventada ou sem vento, baixo e perto das árvores... Muita asa á volta, confusão generalizada e ninguém a respeitar prioridades (tipo salve-se quem puder) para evitar a colisão com outro piloto tenho de abusar do manobrador pá esquerda; pa evitar a colisão com uma árvoree tenho de abusar do manobrador prá direita (a cadeira é pouco dinâmica e não ajuda...); negativo (a asa tb é um bocado sensível); Twist? (a cadeira tem alta inércia de rotação..); por estar baixo n tenho tempo de recuperar e entro pelas árvores adentro; 2 horas pendurado até ser resgatado.
Como disse ao início a opção é pessoal e cada um tem de avaliar os prós e os contras, as vantagens que pode usufruir e os riscos que está disposto a correr conscientemente. Não estou a querer desculpar um erro de pilotagem, mas estou quase certo de que não teria acontecido o mesmo se tivese a minha velhinha Cocoon. Um conselho, experimentem antes de decidir. Da minha parte ponho o material á disposição para um test-flight.

NV

Anónimo disse...

Nuno, como um potencial interessado numa dessas cadeiras, agradeço-te todos os relatos que aqui tens deixado e sobretudo a disponibilidade para um test-flight! Com esse tipo de "atitude" é que o parapente em portugal precisa! Falar sério e disponibilidade em ajudar! Bem Haja!

Sérgio Silva