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por Gonçalo Velez
A descolagem de Castelo de Vide, próximo da Senhora da Penha, tem uma paisagem cativante de planície a perder de vista. O terreno não está limpo e coloca-se a asa em cima das ervas e dos arbustos, dá-lhe um ar mais selvagem e montanheiro.
Descolámos com muito optimismo pois a previsão do dia era promissora.
No entanto, os primeiros a fazê-lo, Nuno V, David A, Pedro L e Paulo R, estavam com muita dificuldade em ganhar altitude: enrolavam para trás do monte e regressavam à frente à procura de melhor térmica.
Depois de descolar reparei que por cima da descolagem a térmica era boa e constante e aí me mantive, para depois me juntar ao Eduardo que tinha subido mais ao lado.
Já não me lembro quem virou costas ao vento em primeiro, mas lembro-me de me sentir farto de não conseguir subir mais e de deixar-me ir para trás, mesmo com pouca altura (1240m), ou 500m acima da descolagem!
Quase sempre esta medida de descarga de impaciência dá um mau resultado, mas a intenção era ir explorar outras paragens pois ali só se “estagnava”.
Julguei que encontraria ascendente por cima da vila e do monte do castelo de Castelo de Vide, mas nada. Continuei para sotavento sempre a descer, o Eduardo mantinha-se alto, sobrevoei longas lajes de rocha, sentindo-me muito baixo abri a selette, mas felizmente recuperei a oeste de uma estação de combóios entre C Vide e Marvão, Beirã.
O Eduardo esperava, juntei-me a ele, e seguimos. Atravessámos a planície a oeste de Valência de Alcântara enrolando outra térmica, que era formada de bolhas com muita deriva. Aliás, a maioria das ascendentes do dia até aos 1600m eram bolhas arrastadas pelo vento.
O dia estava muito seco e as condições eram duras, àsperas, o vento forte e a turbulência era constante e tornavam a asa sempre muito agitada. No entanto, as térmicas não eram potentes.
No final da planície volto a estar muito baixo, o Eduardo mais alto enrolava numa térmica para oeste, sigo por cima de campos de oliveiras sempre a baixar. Desaperto a selett
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Passo por cima de um cabo eléctrico que era a minha referência para aterrar, e sinto-me a subir ligeiramente mas a viajar, percorrendo esse território de oliveiras. A térmica torna-se mais consistente e subo com melhor rendimento. Em pouco tempo tenho um bando de abutres a partilhar a ascendente e a girar comigo.
O Eduardo que girava numa térmica mais fraca veio juntar-se a nós. Subiu mais rápido e pisgou-se em transição para NE.
Mantive-me a enrolar e vejo-o a descer imenso na direcção do Tejo. Vejo-o já longe e muito perto da margem direita sobre as oliveiras e pensei “Para que foi ele para ali, coitado?! Já não se safa…” e mantive-me alto. Foi aqui que nos separámos por que depois vi-o a recuperar lentamente e deixei de o ver.
Adiante subia-se mais e comecei a ultrapassar os 2000m e a caír pouco. O vento intensificava-se e às vezes acelerava brutalmente misturado com térmica, o que se traduzia em muita turbulência. Cheguei a observar 80 kmh no gps!
A meio do voo dei-me conta de que já não aguentava os abdominais, com tanto solavanco e esticão estava a sofrer os efeitos de voar com o ventral todo aberto e demasiado deitado na selette! Endireitei um pouco o espaldar da cadeira mas o mal já estava feito… Comecei a voar com grande incómodo.
Tinha furado o cantil na descolagem e não tinha bebido durante o voo, e devia estar bastante desidratado, o que não ajuda à recuperação do esforço.
Passei sobre uma grande albufeira do Tejo a 1700m e, para meu espanto, reparo nos sulcos à superfície da água criados pelas rajadas de vento!
Como não tinha presente a previsão do vento ao long
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Decidi voar em frente e aterrar onde fosse. No entanto a sustentação era muito grande e voava uma maioria de tempo sobre ascendente.
A paisagem era formidável e já via à frente a serra de Gredos encimada de uma série de cúmulos. Pensei que talvez esses cúmulos me pudessem tornar o voo mais confortável, mas nunca os alcancei…
Passei os 96 km, a minha distância de 2006, e dado o meu cansaço achei que já estava satisfeito. Fui deixando baixar-me a pouco e pouco, estudei uns campos perto de uma aldeia, abri a selette e já muito baixo, com as pernas de fora, preparado para aterrar, volto a sentir ascendente!
Não resisti à tentação e enrolei com convicção pensando que “ainda não chegou a hora, faço mais um esforço!”.
Voltei a atingir os 1500m e deixei-me ir… Via ao longe uma cidade na base do monte junto a uma lagoa encravada entre encostas que vim a saber ser Plasencia.
Passei o meu recorde anterior de 111 km e achei que ficava nos 115 km, mas as c
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Muito obrigado ao Eduardo pela excelente companhia e por ter esperado por mim no início, parabéns pelo voaço!
Muito obrigado ao Nuno Girão e ao Pedro Lacerda pela recolha!
O meu voo na Liga XC Portugal. Voo realizado em 14.07.07.
Fotos: Iva Saiote, Ana Fernandes, Eduardo Lagoa.