por Pedro Lacerda
Na terça feira fiz o meu maior voo de sempre, voei quase até ao fim com o Alex.
Nunca tinha estado tanto tempo a voar nem tão alto nem tão longe.
Nunca tinha andado numa confluência a sério, pelo menos como esta que apanhámos antes da barragem de Alcântara.
Isto ajudou muito o acelaranço do voo que tinha sido lento até ali. ficámos ao principio uma hora e meia para sair da serra à espera de subir de jeito e de ter o dia mais montado fora da serra.
A chegar a uma pedreira minha conhecida antes de Penamacor vimos uma tromba de um redemoinho enorme e para lá fomos os dois, chegamos fora de ciclo mas o Alex foi-se safando melhor, mais baixo quando entra o novo ciclo vou de +7 ter com ele até aos 3 miles e mais trocos para bazarmos para a nuvem seguinte por cima de Penamacor e para a próxima que estava por trás já as duas a chamar por nós.
A chegar à nuvem entra a barulheira dos f16’s. O exercício que havia afinal não era na serra como eu achava mas mesmo em Penamacor onde estávamos. Os gajos dos reactores a jacto andavam todos entretidos a abrir por ali em vagas. Era muito má ideia continuar por lá bazamos os dois para a direita a cair quem nem bois e a dizer adeus às nuvens nossas amigas todas furadas pelos aviões da guerra.
Ainda ouvi um a dizer tátátá e o outro estás morto! Não estou nada batoteiro!
E depois deixei de ouvir porque estava a bazar de lá e cada vez mais perto do chão. Os dois, eu e ele apanhamos um zero +1 -1 por ali e agarramo-nos ao que havia se não quando vejo o Alex a virar tudo à direita para ir sacar uma térmica decente a uns 500m dali. Fiquei impressionadíssimo com a convicção e a certeza que ali estava e estava, (depois disse-me que tinha visto uma cegonha a subir, parece que tira o encanto da adivinhação mas não tira).
Dali para a frente foi Monsanto onde subimos separados e encontrámo-nos no fim da térmica, dali para a frente entrámos na estradas de nuvens. O que foi acontecendo cada vez mais regularmente parece batota mas não era, era voo livre.
A táctica passou a ser subir até aos 3000 e depois deixar ir em frente no final da estrada de nuvens estávamos a 3800 e a andar sempre a 60 à hora. Até +5 apanhei e deixei para lá porque não era preciso. Com isto fomos assapando cada vez mais para recuperar o engonhanço inicial até que chegamos ao fim das nuvens, só que o dia estava a montar-se à nossa frente, o azul era um azul com farrapos a mostrar as correcções de rota. Algures no meio de isto tudo tivemos um ponto mais baixo a seguir à fronteira acho eu, experimentei um rio que lá havia mas a coisa não estava a dar fui mais à frente ver e pronto tá feito 3800, entramos na tal barragem.
O que estava a acontecer era que o dia de pouco vento da previsão estava a ser atropelado pela brisa a entrar e além de começarmos a ter mais velocidade que deu depois a mim 70 à hora. Às cinco e meia tínhamos feito 100km que é sempre bonito e pus-me a pensar que além de já estar todo routo ainda tínhamos mais três horas e meia para voar. O ritmo naquela altura estava a ser porreiro e achei que os 200 poderiam estar ao alcance mas era preciso ver como correria à frente mais azul. 150km menos de uma hora depois e ainda a voar sempre numa janela altíssima entre os 2500 e os 3900 (dasse nunca tinha voado tão alto. Pus-me a olhar na vertical para o chão e dá uma sensação muito estranha) a partir dos 3000 ficava a tremer de frio o que era disparatado e um erro meu grande de não ter vestido mais roupa. Outro erro era ter esquecido a sandes atrás no arnês.
Pus-me a fazer flexões dentro do arnês para aquecer e esquecer a fome. Aguinha, um bocadinho de conversa com o Alex e siga em frente.
Garantíamos sempre a janela alta e a térmica tinha o dom de se propagar com o vento muito bem o que fazia com que depois da subida vinha o boianço sempre a boa velocidade e muito pouca descendente nesta altura. O dia começa a ficar mais redondo e antes de uma serra que marcava mais ou menos os 200km, mais ou menos aos 180 190, vinha à frente apanho uma térmica calma tipo +1, +2, e muito redondinha típico final de dia fico convencido que era isto que havia, o Alex segue mais à esquerda e deixei de prestar atenção por uns minutos quando vou à procura dele tinha levado um chito monumental, tinha encontrado um núcleo porreiro e estava estratosférico outra vez, ando a abelhar à procura da coisa mas nada como é óbvio, tivesse tido mais atenção, foi ai que nos separámos, não tinha lógica ele esperar porque eu não estava a subir o suficiente e ele foi andando até deixar de o ver e a procurar subir melhor. Sei que ficou depois da serra com os 201km feitos. Fui andando e na tal serra subo decentemente até aos 3000 era a limitação que me tinha imposto para tentar chegar ao Alex e não ter frio, 200 feitos gritinho paneleirote de estar todo contente e siga que isto vai dar mais, mais uma térmica e deixei ir a coisa, estava a apontar para mais uns km mas não tantos, fim de dia planeio baril e boa velocidade uns 70, tinha o bico do chão que subia num planalto e muita arvore, apontei à estrada e deixei ir quando cheguei aos 228 tinha uns cabos de alta tensão à frente e à minha altura fui até lá e aterrei num campo fantástico.
Estava a passar um carro, mija comprida, desligar as cenas, estalar os ouvidos e volta o carro.
O gajo era parapentista e tinha voltado para me dar boleia, ajudou-me a arrumar a asa e meteu-me no carro ofereceu-me um cigarro e deu-me os parabéns. Deixou-me num café e tá feito. Grandas bacanos. Lacerda
2 comentários:
oi amigo! Onde aconteceu esse vôo? em portugal? tambem sou piloto, moro em Salvador, Bahia, Brasil. abraço
Parabéns, Pedro!
Beijinhos.
P.S. Para a próxima leva fralda... :)
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