sábado, junho 14, 2008

Castelo de Vide-Mérida, 111 km





por Paulo Reis

Após a descolagem de Castelo de Vide foi difícil subir até aos 2500m antes de sair do vale. Dirigi-me para a encosta de Porto da Espada em seguida bastante alto.
O vale de Porto da Espada não funcionava e estive à espera de conseguir sair do buraco durante algum tempo e quando estava pronto para deitar a "toalha ao chão" e ir aterrar, apanho um "Bip" fraco e decidi ficar ali à espera que aquilo se tornasse numa térmica e lá fui subindo que nem um caracol no meio duma auto-estrada. Aquilo era mais mocada seca, do que térmica!
Lá consegui sair dali e decidi ir para trás e forçar contra-vento (20 kms/h na tromba) para tentar seguir a estrada e o plano que tinha combinado com o pessoal que foi comigo.
Nessa altura estava à esquerda da Cordilheira que segue para Cáceres ("no man´s land") e se continuasse naquela rota, a deriva levar-me-ia para uma zona de pequenas montanhas, aterragens manhosas e muito poucas estradas. Voltei para trás a fazer serrotes depois de decidir que não ia (ser Anarca :-)) e seguir em direcção a Cáceres, ao contrário de todos os outros pilotos que partiram para distância.
Estava numa zona com poucas estradas, onde teria de caminhar algu
mas dezenas de kms a pé se tivesse de aterrar por ali.
Correndo o risco de ficar pelo caminho, decidi voltar a fazer serrotes até um local onde pudesse seguir uma estrada alcatroada. Antes de tomar a decisão de voltar para trás, falei com a Sílvia e Eusébio pelo rádio que me disseram que todos os pilotos tinham seguido muito mais para sul e eu conseguia avistar duas cidades grandes nessa direcção.
Fui fazendo serrotes até conseguir ficar alinhado com a nova rota (sudeste) que decidi seguir pois parecia-me a mais certeira para ir na direcção do restante pessoal. Com esta brincadeira toda, perdi duas horas antes de começar a cobrir "terreno a séria".
Logo que consegui começar a ir na rota que pretendia, foi sem
pre a facturar quilómetros, pois existia térmica com fartura por todo o lado e as aterragens deixaram de ser uma preocupação.
Apenas fui gerindo a altura que tinha e não queria baixar muito, pois acima dos 1800 havia umas confluências jeitosas e a térmica ficava mais consistente. Abaixo dos 1500m tornava-se trabalhoso voltar a subir.
Foi apenas um voo de gestão onde apenas usei o aceler
ador no inicio para voar contra-vento e tentar fazer a ligação com a estrada que seguia para Cáceres. O voo acabou por ser bastante tranquilo e longo, algo que eu não julguei possível depois das primeiras 2 horas de voo.
Durante o voo ainda houve uma altura de "compasso de espera" pois fui apanhado por uma camada de cirros bastante espessa que fez com que as térmicas escasseassem por um curto período de tempo. O engraçado foi que quando saí dessa situação, mal apanhei uma zona de sol sem cirros, aquilo começou a soltar térmicas com fartura e consegui ir a boiar durante bastantes Kms a aproveitar uma zona de confluência estranha.
Voei 5 horas até esgotar as térmicas todas que fui atropelando e estava com energia para voar até ao anoitecer, num dia estranho onde se descolou tarde (até deu para almoçar de faca e garfo), onde enjoei (quase "gromitei") na viagem de ida e não me apetecia
voar, onde estive prestes a aterrar no vale de Porto da Espada que estava sem bombar nada e parecia uma "panela de pressão estragada"!
Fui salvo por uma térmica fraca e turbulenta que me levou até à fronteira atrás e se tornou consistente à medida que subia e derivava para trás. Fiquei com a sensação de que se tivesse seguido a rota de Cáceres, teria conseguido cobrir muitos mais Kms, pois já conheço essa rota de frente para trás e de trás para a frente e a deriva era muito mais forte nessa direcção.
No final, adorei ter conseguido ir numa direcção que não conhecia e que me pareceu br
utalmente interessante para voos futuros. O terreno é plano, consegui identificar alguns gatilhos de térmicas interessantes, existem muitas estradas para aquele lado e as recolhas acabam por ser muito mais simples nessa direcção, pois voa- se perto da Auto-estrada E-90.
Ao aterrar em Mérida (às 20.30h) e após ter atendido 3 telefonemas em voo antes de aterrar e durante o planeio final, soube que o Saiote também tinha aterrado por lá e que tinha chegado 1.30h antes de mim.
Juntei-me a ele, depois de 5 kms a "alombar" com a asa às costas, pois aterrei no lado Este da Cidade e ele estava no lado Oeste e a "mamar survias" que nem um bêbado na Plaza de Espanha local. Foi a primeira vez que o vi alcoolicamente satisfeito, a falar pelos cotovelos e a rir-se descontroladamente. Afinal era o seu primeiro voo de 3 digitos :-)
Parabéns Saiote Anarca!!!!!!!!!
Bons voos e divirtam-se a voar,

Paulo Reis

Vídeo do voo

Tracklog na Liga XC Portugal

P.S: A parte chata foi ter sabido mais tarde, que muitos pilotos não conseguiram sequer sair de Castelo de Vide a voar. Continuem a insistir, pois o local não é fácil, mas vale a pena!

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